quarta-feira, 27 de abril de 2016

Ser é ser curtido, comentado e compartilhado.

Você vai lá, faz um post supercriativo e ninguém lê. Pior. Publica uma foto, aguarda alguns minutos. Nenhum like. Nenhum comentário. Que trágico. 

O filósofo irlandês George Berkeley (1685 - 1753) dizia que "ser é ser percebido", ou "ser é perceber e ser percebido", podíamos atualizar esse raciocínio para os dias de hoje e dizer "ser é ser curtido, comentado, compartilhado". Deste modo, não ser curtido, nem comentado, seria a morte. 



Logicamente, quando Berkeley fez essa reflexão (ser é ser percebido) ele não a utilizou nesse sentido que eu expus no parágrafo acima. Sua teoria era de que o mundo material não existia. Tudo o que existe, existe na mente: "Toda a ordem dos céus e todas as coisas que preenchem a terra - em suma, todos aqueles corpos que compõem a enorme estrutura do mundo - não possuem nenhuma subsistência sem uma mente.". Deste modo, se não existisse uma mente para perceber as coisas, nada existiria. Mas podemos rebater Berkaley e pensar o contrário. Se uma mente não existisse, o mundo continuaria existindo, independente de ter uma mente que o perceba ou não. O que não existiria seria a mente.

Mas, enfim... esse post não se propõe a explicar ou debater o pensamento de Berkeley. Utilizei essa frase, nesse contexto, apenas para refletir rapidamente sobre um caso que aconteceu tempos atrás. A saber. Um amigo meu comentou sobre um "contato" de sua lista no facebook que havia postado um vídeo chorando, desabafando e colocando o suicídio nas entrelinhas. Fui ver os comentários, vários "amigos" preocupados apareceram. 

De fato, uma parte das pessoas que tentam se suicidar, não querem morrer, de fato. É aquela famosa "tentativa" mais ou menos. Uma ameaça, um teste, para saber se ela é importante para alguém. Ela quer "ser", mas antes precisa saber se é notada. Se existe de fato para alguém. 

Muitas vezes, quando brigamos com alguma pessoa, passamos a ignorar a existência dela. Dizemos até "fulana morreu para mim". Posso ignorá-la e dizer que ela está morta. Mas ela não está. Continua existindo. Muito embora a pessoa (a fulana), em si, possa se sentir assim mesmo, morta, pois é invisível para o outro que a ignora. Num ato de desespero a ignorada ameaça "não ser" efetivamente, para testar se será percebida, notada. Tudo isso na esperança única de continuar "sendo".  


No meu post anterior, eu disse que não me importava se ele não fosse lido por ninguém. Isso é meia verdade. Fomos treinados para isso. Postar, ser curtido, ser comentado. É quase um vício. Esquecemos que, notados ou não, continuamos existindo. E as vezes, de maneira mais intensa quando menos notados. Mas isso é assunto para outro dia. 








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