terça-feira, 13 de julho de 2010

SKINS E O RETRATO DA JUVENTUDE


Sexo, drogas e bla bla bla. Nada de novo, pelo menos no que diz respeito ao tema. Porém, na maneira de abordar? Quanta diferença. Pra começar, vamos esquecer o politicamente correto. Em 'Skins' não há julgamento, nem sermões, existem pessoas. Jovens, mais especificamente, e sua inerente vontade de viver. Provoca? Claro. Deve escandalizar muita gente.  Mas nem por isso se torna vulgar. Na verdade é uma bonita história sobre a juventude e a amizade.

Que tal fugir do óbvio, do clichê e do caminho fácil? Por exemplo, o personagem principal das duas primeiras temporadas tem boas notas, é inteligente, é um bom amigo, atua e canta na peça do colégio (até parece algum personagem de Glee). Que garoto exemplar, você deve estar pensando. Sim, que garoto exemplar. Ele também transa com várias garotas do colégio, empresta a própria namorada pro amigo virgem, quer experimentar o amigo gay e consome droga e álcool de maneira desenfreada. Que menino prodígio. Lá pelas tantas, ele sofre um acidente. Eis que 'o cara' virou motivo de gozação: 'Olha lá, ele ficou retardado!', é o que 'as pessoas normais e corretinhas' exclamam. É neste momento que ele recebe o apoio e o amor incondicional de cada um de seus amigos marginalizados.


O  grande mérito da série, é que ela não recorre ao caminho fácil (ou convencional) e toca na ferida de verdade. Desenvolve o tema com profundidade. Aqui no Brasil, a teledramaturgia (principalmente a da Globo) se gaba do que chama de 'merchan social'. Por exemplo, recentemente em Malhação, foi introduzido um personagem que tinha problemas com drogas. Sua única função era servir de step para a divulgação da campanha anti-crack. Uma assistente social e o melhor amigo do rapaz, gastavam longos minutos com sermões que utilizavam praticamente o mesmo texto didático e 'sem emoção' dos comerciais. Todos os dias, o mesmo sermão, com as mesmas palavras, repetidos a exaustão. Depois de transmitida a mensagem, o personagem desaparece da trama e a novela retorna a normalidade.

Não estou criticando este tipo de campanha dentro da teledramatugia. Muito pelo contrário, inúmeras vezes a Globo já mostrou como o 'Merchan Social' pode ser útil, uma vez que traz a tona e esclarece a população sobre diversos temas que lhe afetam no cotidiano*. Mas precisa existir uma coisa chamada, adequação. Não pode comprometer o drama, precisa ser contextualizado, bem inserido, bem abordado e bem desenvolvido. Não basta colocar o texto da campanha na boca de um personagem, como foi feito em Malhação. Mas, isto acontece simplesmente pra inflar os números e poder anunciar depois que as novelas bateram recorde de inserções destas campanhas. No entanto, muitas vezes a abordagem é tão superficial, tão rasa, tão vazia que chega a ser ridícula e medíocre. Não é o caso da série Skins. Aliás, sua intenção passa longe do merchan social. Sua pretensão é mais documental, uma espécie de reality sobre o estilo de vida do jovem britânico.

*(Um exemplo positivo de 'Merchan Social' foi desenvolvido na novela 'Laços de Familia', quando a personagem Camila descobriu ser portadora de Leucemia, o seu drama tinha o intuito de estimular a campanha de doação de medula. O ápice da campanha foi quando a personagem precisou raspar os cabelos. A novela ultrapassou os 60 pontos no Ibope e aumentou bastante o número de doações na época.)


Além das drogas, temos a questão da sexualidade. Chega a ser irônico, um país como o Brasil ser tão careta quando o assunto é sexo. Segundo a nossa teledramaturgia, aqui os jovens não transam, bissexuais e lésbicas não existem e gays pertencem exclusivamente ao núcleo cômico e caricato da trama. Ah, e eles não se beijam nunca, claro.

Em Skins temos o oposto de tudo isso. A intenção é fazer um retrato da juventude, sem 'lição de moral'. E por isso mesmo, funciona. Não podemos ignorar as referências de Kids e Ken Park, mas Skins sai na frente. Sua intenção não é apenas chocar, se fosse assim, a fonte teria secado faz tempo. A grande surpresa é que sua mensagem emociona e muitas vezes toca fundo.

Além disto, foge do tradicional sempre que pode: O ritmo da narrativa é bem diferente daquele que costumamos ver nos seriados americanos; A trilha sonora é de primeira qualidade e cria todo o clima. Tá, ás vezes, aparece alguma trilha totalmente oposta ao estilo indie/rock/clássico da série, na intenção de tirar um sarro. Mas faz parte do seu charme. Uma das características marcantes da série é a linguagem. Cada episódio se foca na história de um personagem. O problema é que certos personagens são mais cativantes que outros. Deste modo, alguns episódios podem não ser tão interessantes, de acordo com seu grau de interesse no personagem.


Outra característica que chama a atenção, é a maneira como os adultos são retratados na série. Enquanto os protagonistas jovens são desenvolvidos em toda sua complexidade, os adultos mais parecem 'mortos-vivos' que vivem suas vidas sem nenhum sentido. São abordados de maneira boba, suas motivações são  superficiais e seus discursos bem vazios. Esta abordagem é totalmente intencional. O contraste entre juventude e vida adulta fica evidente. Na série, enquanto os jovens vivem a vida a flor-da-pele (e à sua maneira), os adultos ficam apenas no discurso ensaiado, empurrando com a barriga.

Enfim, se você esta sofrendo nesta mid-season, devido a ausência de boas séries, Skins é uma excelente opção. Totalmente recomendável. A série possui 4 temporadas e, no momento, estou na terceira. Encerro o texto aqui, para poder  ver mais um episódio. Até o próximo post!