quarta-feira, 4 de agosto de 2010

MENTIRAS ESSENCIAIS, VERDADES SIMPLES

Mentiras Essenciais, Verdades Simples: O homem tem a consciência da morte. Uma verdade simples, porém insuportável. Para lidar com isto, ele cria mentiras vitais, para que consiga sobreviver. Este é o tema do livro 'Mentiras Essenciais, Verdades Simples'. Não é o meu livro preferido, nada disto. Mas, de repente, me lembrei dele. Vale dizer que não se trata de um livro de auto-ajuda. O autor é o Ph. D. Daniel Goleman, aquele mesmo de "Inteligência Emocional". Na obra, ele explica o funcionamento mecânico da mente e como funciona a psicologia da auto-ilusão.


O fato é: a verdade, muitas vezes, é dura. Enquanto a fantasia é tão mais confortável e atraente. Mas qual é o preço de se iludir, de se enganar? Muitas pessoas mentem para si mesmas, para que consigam suportar os seus dias. E é terrível quando a verdade as alcança, tirando toda a sua base e derrubando toda a sua estrutura. É a des - ilusão.
 
Nietzsche sempre chamou os cristãos de fracos, pois preferem crer na 'ilusão' da vida eterna à encarar a 'realidade' da morte. Eu sou cristão. Eu tenho fé. Sou um homem de fé. E quando me perguntam o que eu sou, a primeira idéia que me vem à cabeça é: sou um homem de fé. Para muitos é uma ilusão, é uma fantasia, uma mentira essencial. Mas pra mim, é uma verdade simples, muito simples.

terça-feira, 13 de julho de 2010

SKINS E O RETRATO DA JUVENTUDE


Sexo, drogas e bla bla bla. Nada de novo, pelo menos no que diz respeito ao tema. Porém, na maneira de abordar? Quanta diferença. Pra começar, vamos esquecer o politicamente correto. Em 'Skins' não há julgamento, nem sermões, existem pessoas. Jovens, mais especificamente, e sua inerente vontade de viver. Provoca? Claro. Deve escandalizar muita gente.  Mas nem por isso se torna vulgar. Na verdade é uma bonita história sobre a juventude e a amizade.

Que tal fugir do óbvio, do clichê e do caminho fácil? Por exemplo, o personagem principal das duas primeiras temporadas tem boas notas, é inteligente, é um bom amigo, atua e canta na peça do colégio (até parece algum personagem de Glee). Que garoto exemplar, você deve estar pensando. Sim, que garoto exemplar. Ele também transa com várias garotas do colégio, empresta a própria namorada pro amigo virgem, quer experimentar o amigo gay e consome droga e álcool de maneira desenfreada. Que menino prodígio. Lá pelas tantas, ele sofre um acidente. Eis que 'o cara' virou motivo de gozação: 'Olha lá, ele ficou retardado!', é o que 'as pessoas normais e corretinhas' exclamam. É neste momento que ele recebe o apoio e o amor incondicional de cada um de seus amigos marginalizados.


O  grande mérito da série, é que ela não recorre ao caminho fácil (ou convencional) e toca na ferida de verdade. Desenvolve o tema com profundidade. Aqui no Brasil, a teledramaturgia (principalmente a da Globo) se gaba do que chama de 'merchan social'. Por exemplo, recentemente em Malhação, foi introduzido um personagem que tinha problemas com drogas. Sua única função era servir de step para a divulgação da campanha anti-crack. Uma assistente social e o melhor amigo do rapaz, gastavam longos minutos com sermões que utilizavam praticamente o mesmo texto didático e 'sem emoção' dos comerciais. Todos os dias, o mesmo sermão, com as mesmas palavras, repetidos a exaustão. Depois de transmitida a mensagem, o personagem desaparece da trama e a novela retorna a normalidade.

Não estou criticando este tipo de campanha dentro da teledramatugia. Muito pelo contrário, inúmeras vezes a Globo já mostrou como o 'Merchan Social' pode ser útil, uma vez que traz a tona e esclarece a população sobre diversos temas que lhe afetam no cotidiano*. Mas precisa existir uma coisa chamada, adequação. Não pode comprometer o drama, precisa ser contextualizado, bem inserido, bem abordado e bem desenvolvido. Não basta colocar o texto da campanha na boca de um personagem, como foi feito em Malhação. Mas, isto acontece simplesmente pra inflar os números e poder anunciar depois que as novelas bateram recorde de inserções destas campanhas. No entanto, muitas vezes a abordagem é tão superficial, tão rasa, tão vazia que chega a ser ridícula e medíocre. Não é o caso da série Skins. Aliás, sua intenção passa longe do merchan social. Sua pretensão é mais documental, uma espécie de reality sobre o estilo de vida do jovem britânico.

*(Um exemplo positivo de 'Merchan Social' foi desenvolvido na novela 'Laços de Familia', quando a personagem Camila descobriu ser portadora de Leucemia, o seu drama tinha o intuito de estimular a campanha de doação de medula. O ápice da campanha foi quando a personagem precisou raspar os cabelos. A novela ultrapassou os 60 pontos no Ibope e aumentou bastante o número de doações na época.)


Além das drogas, temos a questão da sexualidade. Chega a ser irônico, um país como o Brasil ser tão careta quando o assunto é sexo. Segundo a nossa teledramaturgia, aqui os jovens não transam, bissexuais e lésbicas não existem e gays pertencem exclusivamente ao núcleo cômico e caricato da trama. Ah, e eles não se beijam nunca, claro.

Em Skins temos o oposto de tudo isso. A intenção é fazer um retrato da juventude, sem 'lição de moral'. E por isso mesmo, funciona. Não podemos ignorar as referências de Kids e Ken Park, mas Skins sai na frente. Sua intenção não é apenas chocar, se fosse assim, a fonte teria secado faz tempo. A grande surpresa é que sua mensagem emociona e muitas vezes toca fundo.

Além disto, foge do tradicional sempre que pode: O ritmo da narrativa é bem diferente daquele que costumamos ver nos seriados americanos; A trilha sonora é de primeira qualidade e cria todo o clima. Tá, ás vezes, aparece alguma trilha totalmente oposta ao estilo indie/rock/clássico da série, na intenção de tirar um sarro. Mas faz parte do seu charme. Uma das características marcantes da série é a linguagem. Cada episódio se foca na história de um personagem. O problema é que certos personagens são mais cativantes que outros. Deste modo, alguns episódios podem não ser tão interessantes, de acordo com seu grau de interesse no personagem.


Outra característica que chama a atenção, é a maneira como os adultos são retratados na série. Enquanto os protagonistas jovens são desenvolvidos em toda sua complexidade, os adultos mais parecem 'mortos-vivos' que vivem suas vidas sem nenhum sentido. São abordados de maneira boba, suas motivações são  superficiais e seus discursos bem vazios. Esta abordagem é totalmente intencional. O contraste entre juventude e vida adulta fica evidente. Na série, enquanto os jovens vivem a vida a flor-da-pele (e à sua maneira), os adultos ficam apenas no discurso ensaiado, empurrando com a barriga.

Enfim, se você esta sofrendo nesta mid-season, devido a ausência de boas séries, Skins é uma excelente opção. Totalmente recomendável. A série possui 4 temporadas e, no momento, estou na terceira. Encerro o texto aqui, para poder  ver mais um episódio. Até o próximo post!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O FIM DE LOST



Quando eu paro pra pensar em 59 países assistindo, simultâneamente, ao mesmo programa, e tantas outras pessoas no mundo, pela internet, chorando ou quebrando a cabeça tentando entender o series finale de Lost, eu não consigo pensar em outra coisa: 'Estou presenciando uma fase de transição'. A transição para uma nova forma de ver TV.

Assisti ao series finale anteontem e ainda não sei se consigo escrever sobre ele. Ao término do episódio, eu simplesmente congelei. Fiquei mudo, estático, olhando pro nada. Dentro de mim, porém, uma movimentação intensa. Pensei: 'Espera ai, o que aconteceu? (WTF)'. Precisei voltar os 18 minutos finais. A ficha caiu. Voltei então algumas cenas pra trás e exclamei um palavrão que vou substituir pela palavra 'GENIAL'.

Já disse em outros posts, que Lost sempre foi centrado no conflito entre Fé e Razão. Pois bem, o encerramento da história se deu pela Fé. Teve gente que não gostou, mas neste grupo temos dois tipos de pessoas: O primeiro grupo entendeu, mas não aceitou. O segundo, simplesmente não entendeu.

Vamos lá, se você não entendeu: Os 'FlashSideways', ou a realidade paralela, que embalou esta temporada, era uma espécie de purgatório. Nos FlashSideways, eles estão mortos. E pra que serviu tudo aquilo? É como se a vida precisasse te contar a mesma história (a história de sua vida) de outra forma, para que você compreendesse o porque e a razão das coisas terem acontecido daquela maneira. Nesta realidade paralela, sua vida alcança um sentido e você alcança a sua redenção. Benjamin acredita que ainda não esta pronto e por isso decide que ainda deve permanecer nela. Os demais, caminham rumo a Luz. Seria aquilo o Céu? O Paraíso? Provavelmente. E olha que curioso, o céu não é um campo de golfe, nem um espaço verde infinito com crianças jogando bola de um lado pro outro. Na verdade, é um estado de espírito de total compreensão e felicidade completa, perto daquilo e daqueles que foram importantes durante a sua vida. 'Por isto estão todos aqui, você precisa de todos eles e eles precisam de você' é o que Jack ouve de seu pai morto. Por isso, Charlie reencontra Claire e Aaron, por isso Sayid encontra Shannon, por isso Locke, enfim, se levanta da cadeira de rodas. Tudo o que lhes fora importante em vida lhes é concedido, uma vez redimidos. Todas as situações dos flash-sideways, compõem um epílogo da saga que acompanhamos na ilha (vale ressaltar, tudo na ilha aconteceu de verdade, eles estavam vivos).

Ta. Mas, e a Dharma? E o coração da Ilha? E a fumaça preta? De fato, a mitologia de Lost não é diferente de todas as outras mitologias. É um campo aberto para diversas reflexões, seja ela científica, filosófica ou religiosa. Há uma Luz ou uma Força. Para alguns ela pode significar Fé, Amor, Esperança. Para outros pode significar 'buracos de minhoca', 'efeito casimir', 'máquina de fazer dinheiro'. O fato é, existe uma luz que é a origem metafísica do mundo. Os homens de fé a protegem e os da razão querem explorá-la. A Iniciativa Dharma buscou entender o poder da ilha. Estudando a origem metafísica do mundo, presente no núcleo da Ilha, teríamos a ciência total do Universo e do Homem. Uma das descobertas foi a possibilidade de viajar no tempo. E este recurso foi utilizado na narrativa para que pudessemos conhecer mais sobre a história da Ilha, da Dharma e dos personagens. Foi assim que descobrimos que a Dharma dividia o território na Ilha com os 'Outros', ou os homens de fé, liderados por Jacob, o protetor espiritual da Ilha. Numa dessas viagens no tempo, descobrimos que Ben (que pertencia a Dharma) extinguiu toda a comunidade científica para se juntar aos 'Outros'. Depois disso, desabilitou as estações  para que a Ilha não fosse localizada e explorada novamente. Porém, um dia, Desmond deixou de teclar os 'números', o que permitiu que a Ilha fosse localizada por Wildmore, que foi buscar o acerto de contas com Ben.

Falando em números, o que seriam eles? No jogo de Lost e fazendo uma pesquisa pela internet, descobrimos que os números fazem parte de uma equação, que pretende calcular uma constante, responsável por manter o mundo livre do Caos. Talvez por isso sejam utilizados pela Dharma nas escotilhas e nas estações. E também utilizado por Jacob para numerar seus candidatos.

E afinal, por que eles foram parar na Ilha? Jacob escolheu a cada um deles, por razões diversas, para que um deles fosse seu substituto, como protetor da Ilha. Esperava dar a cada um deles, uma nova chance, uma segunda oportunidade na Ilha. Desde o princípio, Lost foi uma série sobre pessoas: uma ladra-assassina, um médico-viciado, um músico-drogado, um pilantra, um deficiente físico, enfim, pessoas. Pessoas que traziam dentro de si o bem e o mau, com uma existência vazia e errante, e que encontraram na Ilha uma oportunidade de começar do zero. Apagar seu passado e assumir uma nova persona pra si e para os outros. Através de Flash-Backs íamos conhecendo os seus passados e como eles estavam intimimanente interligados. Podíamos prever, desde o princípio, que deveria haver uma razão pra tudo aquilo. E esta razão, era Jacob.

E Jacob? Quem ele é? Deus? Bem, ele morreu, então não é Deus. Seria um intermediário, um profeta, um guardião, um semi-deus? Descobrimos que Jacob e o Homem de Preto são irmãos. E foi dali que nasceu o conflito entre Fé e Razão. E, involuntariamente, Jacob liberta o mal (ou a fumaça preta). Torna-se sua tarefa, portanto, evitar que o mal (seu 'irmão') apague a Luz. Essa mitologia explica muita coisa, mas muita coisa mesmo a respeito da série.

Porém, o episódio final frustra muita gente, quando justamente deixa essa mitologia toda em aberto. Não temos detalhes como: 'De onde veio a mãe de criação dos dos irmãos, a primeira nativa da ilha?', 'O que é aquela luz?'. Enfim, muita gente sentiu falta da ciência explicando as coisas e alguns elementos incomodaram até mesmo os 'homens de fé, como eu, por exemplo: eu esperava uma estrutura mais primária para abrigar a luz, uma rolha de pedra e toda aquela estrutura me pareceu muito estranho. Mas, veja bem, é um campo em aberto. Podemos tentar explicar a mitologia de Lost, com conceitos de física-quântica, filosofia ou religião. Os criadores optaram por deixar a mitologia em aberto, justamente para que cada telespectador prencha, a sua própria maneira,  os buracos que ficaram. Afinal, de onde vem Deus? Ele existe? É aceitável pela fé? Ou podemos entendê-lo racionalmente? Não sabemos. É uma resposta que cada um deve buscar por si, é pessoal. Lost não poderia nos dar essa resposta. Não seria Lost. Conhecedores desta verdade, não estaríamos mais 'perdidos'. Lost respondeu o suficiente para que ainda viva em nosso imaginário.

Agora que conhecemos a história (ou boa parte dela), podemos assistir tudo novamente, com um novo olhar. Certamente, entenderemos de uma maneira melhor e mais completa. E como não dizer 'Obrigado' ? Todos os dias, somos tratados como idiotas pela televisão, que subestima a capacidade de seu telespectador. Lost nos presenteia com uma narrativa complexa, que nos obriga a pensar, ler, estudar, discutir e calar. E no fim de tudo isso, conseguiu nos emocionar. Acredito que até mesmo os homens da razão, sentiram um arrepio ou um marejar no olho quando todos os personagens se recordaram, entenderam a sua existência e se encontraram no fim.

Se eu faria diferente? Algumas coisas. Sim! Mas não mudaria uma vírgula na luta entre FLocke e Jack. Não precisou de efeitos especiais elaborados, espadas brilhantes, nem de bombas. Toda a tensão criada ao longo da série estava presente ali. Vamos as críticas. Não me crucifique, mas preciso fazer alguns comentários engraçados. Mais alguém ai se lembrou dos 'aerolitos' do Chapolin quando as pedras caiam durante os tremores de terra? Alguém ficou com medo de entrar um 'Sei lá, sei lá, a vida é uma grande ilusão....eu só sei que ela esta com a razão', naquela cena final na Igreja?

Enfim, tem muita coisa pra se falar de Lost, mas pra finalizar, a série foi um grande jogo. Um gigantesco quebra-cabeça. As ultimas peças necessárias para montá-lo nos foram dadas. Agora precisamos organizar cada peça e encaixá-las. O mais bacana é que não existe uma única maneira de montá-lo, existem várias. Algumas coisas nos são impostas, outras estão abertas para interpretações pessoais. Uma coisa continua sendo única, independente se você é um homem de fé ou da razão: A história de cada personagem. Uma história que também é nossa. Uma mensagem e uma reflexão. Queria poder comentar algumas cenas, no entanto, acho que já me alonguei demais. Quando a emissora solicitou aos roteiristas que criassem Lost, eles buscavam uma mistura de 'Survivor' com 'Naufrago'. O que ganhamos vai muito além de tudo isso. Alguns momentos deste series finale continuam na minha memória, como o renascimento de Aaron e o reencontro de Charlie e Claire, bem como a cena de despedida entre Hurley e Jack, antes do médico descer a caverna. E os flash-backs, quando os personagens entendiam o significado de suas vidas? E o que dizer da cena final? Lost, a principio, se chamaria 'The Circle' (O círculo). Embora a série termine no mesmo local em que começou, o contexto é totalmente outro. Ao abrir os olhos em meio ao bambuzal, no primeiro episódio, Jack encontrava ali a sua segunda chance. Ao cair  morto, no mesmo local, no episódio final, ele tinha plena certeza de tarefa cumprida. Em algumas palavras: Lindo, Genial, Épico! Uma bela jornada.

I ll se you in another life, brother!!!

sábado, 1 de maio de 2010

Novela argentina mostra beijo gay entre jogadores de Futebol

Dois jogadores de futebol: um deles possui histórico cheio de encrencas, temperamento explosivo e é suspeito pela morte da namorada, o outro é casado e pai de dois filhos. Eis que eles acabam se aproximando. Vem o beijo e depois o sexo. Polêmico? Quase Nada...Com essa trama, a novela 'Botineras' da emissora Telefe, na Argentina, tem dado o que falar.

Os atores são famosos e heterossexuais, a audiência disparou e o público, aparentemente, aprovou. Ao contrário do que poderíamos imaginar, a audiência cresceu e a história de Lalo e Manuel foi bem aceita. Deste modo, as cenas dos dois são cada vez mais frequentes. Diferentemente dos casais homossexuais das novelas brasileiras, em 'Botineras' são exibidas cenas dos dois se relacionando, até com bastante detalhes. Talvez seja essa a grande novidade que a novela trouxe. Nos seriados estrangeiros, o beijo e o sexo gay sempre foram tratados com maior naturalidade, já no Brasil o assunto é complicado. Em sua novela, 'América', Glória Perez tentou fazer com que o personagem de Bruno Gagliaso desse um beijo homossexual,  mas foi barrada pela Globo. O autor Aguinaldo Silva diante de toda a polêmica em torno de 'Botineras', já levanta a hipótese de fazer o mesmo.

Na foto ao lado, os dois atores que interpretam os jogadores de futebol.

O fato do público argentino não rejeitar o casal gay de 'Botineras' pode refletir duas coisas: ou a novela trata o tema de maneira delicada e respeitosa, dentro de um contexto bem trabalhado, ou o público venceu o preconceito por lá.

domingo, 7 de março de 2010

O BBB DO MAL?

É engraçado lembrar a evolução do Big Brother no Brasil. As duas primeiras edições eram bem inocentes. Inocentes no sentido de que os participantes, embora buscassem o prêmio e a fama, não sabiam exatamente como alcançá-los e passavam os dias de maneira morna, empurrando com a barriga, esperando pela final e torcendo para que estivessem nela. O público por outro lado, buscava premiar os mais inocentes, as vitimas, os excluídos e os mais pobres.

Com o passar das edições, muita coisa mudou. A direção do Boninho evoluiu muito, a seleção ficou melhor e os participantes ficaram mais atentos ao jogo. Uma coisa, porém, permanecia a mesma: o critério de votação do público. Participantes declaradamente jogadores começaram a aparecer na terceira edição, lembra-se do massoterapeuta Jean? Que quebrava a cabeça, pensando numa maneira de colocar as duas figuras mais populares (Domini e Sabrina Sato) no paredão, para que conseguisse eliminar ao menos um deles, para arrebatar o prêmio de segundo lugar? No entanto, qual foi o destino do jogador? Eliminado com rejeição. No BBB7 vimos o Cowboy Alberto, sendo eliminado, adotando a mesma postura. No 8 o psiquiatra Marcelo também não foi salvo.

Ora, se o BBB é um jogo, por que julgar como errado e imoral o blefe ou a estratégia? O público parecia não entender isso, eliminando os participantes que possuíam alguma estratégia e movimentavam o jogo, deixando na casa as samambaias com discursos éticos ensaiados, falsos e bastante hipócritas.

No BBB9, a situação começou a mudar. A vitória de Max, jogador declarado, embora por uma diferença de menos de 1%, apontava para uma salvação do tédio no qual o BBB havia caído. Eis que no BBB10, assistimos de queixo caído uma inversão total. Uma situação tão inusitada que nem os participantes dentro da casa conseguem entender.

Pra começar, as 'samambaias' (aqueles participantes que evitam aparecer, emitir opinião, assumir uma postura firme no programa) foram as primeiras a sair. Joseane e Ana Marcela (QUEM?). Lembrando que em edições passadas, essas figuras, incrivelmente chegavam a final, simplesmente por passarem despercebidas.

Agora o mais gritante não é isso. Marcelo Dourado, repleto de opiniões polêmicas, controversas, jogador declarado e acusado de homofóbico já sobreviveu a 3 paredões e aparece com um dos principais favoritos, junto com Lia, participante igualmente polêmica e jogadora. Enquanto isso, aqueles participantes com os discursos ensaiados (do 'bem'?) estão sendo eliminados um a um. Vale lembrar que Marcelo Dourado, já participou no BBB4, e emitiu opiniões menos controversas na ocasião anterior e foi eliminado. O que mudou de lá pra cá?



Outra coisa que surpreende  nessa edição, é o número de votos. Na votação desta semana, foram mais de 93 milhões de votos. Quase a metade da população do Brasil. Vale ressaltar que não são votos únicos, mesmo assim, impressiona pela quantidade. Certamente, esse recorde tem a ver com a Internet. Hoje seu acesso é muito mais fácil do que a 10 anos atrás na primeira edição do BBB. Outro fato que talvez tenha contribuído pra essa mudança seja o critério utilizado pela Globo na hora de contabilizar os votos. Nas 9 edições anteriores, o voto pelo telefone tinha um peso maior do que o voto pela internet. Na décima edição, esse critério caiu, internet e telefone têm o mesmo peso.

O BBB não é apenas um programa de televisão, é um fenômeno transmídia. Durante a exibição do programa, o twitter é invadido por comentários sobre os participantes, fóruns e blogs discutem 24 horas o PPV. A impressão que fica é que o público deixou de entender o BBB como uma novela e passou a ver nele um Jogo. Um jogo no qual ele também quer jogar. Passeando pelas comunidades do Orkut, é possível encontrar comunidades como "Monsters BBB" e "A máfia Dourada", onde as torcidas de Dourado, Cadu, Lia, Fernanda, Anamara e Serginho se organizam para eliminar os demais participantes.

O público, aparentemente, amadureceu a percepção. Afinal, se é um jogo, tem que jogar. Quem não quer, tem que ser eliminado. E é esta a postura que o público adotou. O público aprendeu a manipular o programa em prol do entretenimento. Afinal, não tem como negar o quão engraçado é assistir os participantes do "bem?" sendo eliminados, sem entender a ineficácia do seu discurso infalível.

Uma dúvida que fica, será que estas práticas tão exercitadas pelo público durante os paredões serão aplicadas durante as eleições? Essa organização em comunidades e grupos, repercussão no twitter será usada para investigar propostas, passado político, etc?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

LOST - THE FINAL SEASON

Lost voltou! E se você ainda não assistiu todos os episódios, cuidado. Aqui você certamente vai encontrar alguns spoilers.



A saga dos sobreviventes do voo 815 da Oceanic é complexa. A cada início de uma nova temporada, a gente tenta puxar os pequenos detalhes pela memória e sempre deixa escapar alguma coisa. Agora, com a estreia da última temporada, talvez seja o momento ideal de assistirmos novamente as 5 primeiras temporadas na sequência.

No decorrer dos episódios, eu fui tendo cada vez mais a certeza de que deve existir uma lousa gigante na qual os roteiristas têm todas as ligações e relações entre fatos e personagens desenhadas. Sim, porque como explicar tantos detalhes interrelacionados? Certa vez eu li, que pra Lost responder todos os mistérios que criou, seria necessário pelo menos, mais uma temporada depois da sexta. Mas é bem ai, que entra a genialidade da dupla de roteiristas. Num único episódio eles conseguem linkar e explicar fatos e mistérios de diversos episódios de temporadas diferentes e, ao mesmo tempo, propor novas dúvidas. Isso não é pra qualquer um.

É muito fácil pra um roteirista perder a mão numa história tão complexa como Lost. Lá pela terceira e quarta temporada, muita gente especulou que a série tinha fugido do seu foco. Eis que na quinta, ela ressurge e justifica tudo o que foi mostrado antes. Lost debate ciência e religião, com tantas viagens no tempo e teorias místicas, é louvável o talento de J.J Abrans, Damon Lindelof e Carlton Cuse. Porque diante de tanta teoria, aparentemente maluca, a série continua fazendo sentido. Passeamos por décadas, lugares, teorias e tudo vai se encaixando. Vale lembrar que com, muito menos, Heroes vacilava muito no roteiro, cheio de falhas e buracos que deixava muita coisa mal explicada. Assistir Lost é uma aula de roteiro, e uma aula das boas.

Mas não é apenas este o grande mérito da série. Talvez Lost, tenha sido o grande marco de uma nova maneira de assistir TV. Sim, minutos após o episódio ser exibido, centenas de fóruns na internet especulam, discutem e criam diversas teorias. Foi Lost também que popularizou o download de séries pela internet.

Aqui no Brasil, é possível assistir o episódio que foi ao ar nos Estados Unidos, algumas horas depois, com uma legenda de ótima qualidade. Talvez até melhor do que aquela legenda que vimos no Box ofical da série.

Mas, falando sobre a estreia da sexta temporada. Depois de usar flash backs que ilustravam a vida dos sobreviventes antes da queda do avião e dos flash forwards, que mostravam a vida de alguns que conseguiram escapar da ilha. A última temporada utiliza um recurso diferente.

Lembra-se que a quinta temporada termina com Juliet explodindo a bomba que evitaria uma série de acontecimentos que levaria a queda do Oceanic na ilha de Lost? Pois bem, nos dois primeiros episódios da sexta temporada, nos deparamos com duas narrativas. Na primeira, os sobreviventes não conseguem impedir a queda do avião e continuam na ilha. Na realidade paralela, o avião chega a Los Angeles, sem queda. Outro destaque do episódio de estreia é o retorno da fumaça preta.

Ao invés de respostas, a estreia trouxe mais perguntas. E a principal é: Quem é o homem de preto, o inimigo de Jacob? O que significa aquele dialogo estranho que eles tiveram? Quem chega naquele barco?! Que brecha ele encontrou pra matar Jacob? Afinal, quem é Jacob?! E o pai de Jack? O que significa as aparições dele nesta altura do campeonato?! Pois é, todas essas perguntas são criadas apenas neste episódio de estreia. E somam-se a todas as outras. O maior medo é: haverá tempo suficiente pra responder tanta pergunta?