domingo, 7 de março de 2010

O BBB DO MAL?

É engraçado lembrar a evolução do Big Brother no Brasil. As duas primeiras edições eram bem inocentes. Inocentes no sentido de que os participantes, embora buscassem o prêmio e a fama, não sabiam exatamente como alcançá-los e passavam os dias de maneira morna, empurrando com a barriga, esperando pela final e torcendo para que estivessem nela. O público por outro lado, buscava premiar os mais inocentes, as vitimas, os excluídos e os mais pobres.

Com o passar das edições, muita coisa mudou. A direção do Boninho evoluiu muito, a seleção ficou melhor e os participantes ficaram mais atentos ao jogo. Uma coisa, porém, permanecia a mesma: o critério de votação do público. Participantes declaradamente jogadores começaram a aparecer na terceira edição, lembra-se do massoterapeuta Jean? Que quebrava a cabeça, pensando numa maneira de colocar as duas figuras mais populares (Domini e Sabrina Sato) no paredão, para que conseguisse eliminar ao menos um deles, para arrebatar o prêmio de segundo lugar? No entanto, qual foi o destino do jogador? Eliminado com rejeição. No BBB7 vimos o Cowboy Alberto, sendo eliminado, adotando a mesma postura. No 8 o psiquiatra Marcelo também não foi salvo.

Ora, se o BBB é um jogo, por que julgar como errado e imoral o blefe ou a estratégia? O público parecia não entender isso, eliminando os participantes que possuíam alguma estratégia e movimentavam o jogo, deixando na casa as samambaias com discursos éticos ensaiados, falsos e bastante hipócritas.

No BBB9, a situação começou a mudar. A vitória de Max, jogador declarado, embora por uma diferença de menos de 1%, apontava para uma salvação do tédio no qual o BBB havia caído. Eis que no BBB10, assistimos de queixo caído uma inversão total. Uma situação tão inusitada que nem os participantes dentro da casa conseguem entender.

Pra começar, as 'samambaias' (aqueles participantes que evitam aparecer, emitir opinião, assumir uma postura firme no programa) foram as primeiras a sair. Joseane e Ana Marcela (QUEM?). Lembrando que em edições passadas, essas figuras, incrivelmente chegavam a final, simplesmente por passarem despercebidas.

Agora o mais gritante não é isso. Marcelo Dourado, repleto de opiniões polêmicas, controversas, jogador declarado e acusado de homofóbico já sobreviveu a 3 paredões e aparece com um dos principais favoritos, junto com Lia, participante igualmente polêmica e jogadora. Enquanto isso, aqueles participantes com os discursos ensaiados (do 'bem'?) estão sendo eliminados um a um. Vale lembrar que Marcelo Dourado, já participou no BBB4, e emitiu opiniões menos controversas na ocasião anterior e foi eliminado. O que mudou de lá pra cá?



Outra coisa que surpreende  nessa edição, é o número de votos. Na votação desta semana, foram mais de 93 milhões de votos. Quase a metade da população do Brasil. Vale ressaltar que não são votos únicos, mesmo assim, impressiona pela quantidade. Certamente, esse recorde tem a ver com a Internet. Hoje seu acesso é muito mais fácil do que a 10 anos atrás na primeira edição do BBB. Outro fato que talvez tenha contribuído pra essa mudança seja o critério utilizado pela Globo na hora de contabilizar os votos. Nas 9 edições anteriores, o voto pelo telefone tinha um peso maior do que o voto pela internet. Na décima edição, esse critério caiu, internet e telefone têm o mesmo peso.

O BBB não é apenas um programa de televisão, é um fenômeno transmídia. Durante a exibição do programa, o twitter é invadido por comentários sobre os participantes, fóruns e blogs discutem 24 horas o PPV. A impressão que fica é que o público deixou de entender o BBB como uma novela e passou a ver nele um Jogo. Um jogo no qual ele também quer jogar. Passeando pelas comunidades do Orkut, é possível encontrar comunidades como "Monsters BBB" e "A máfia Dourada", onde as torcidas de Dourado, Cadu, Lia, Fernanda, Anamara e Serginho se organizam para eliminar os demais participantes.

O público, aparentemente, amadureceu a percepção. Afinal, se é um jogo, tem que jogar. Quem não quer, tem que ser eliminado. E é esta a postura que o público adotou. O público aprendeu a manipular o programa em prol do entretenimento. Afinal, não tem como negar o quão engraçado é assistir os participantes do "bem?" sendo eliminados, sem entender a ineficácia do seu discurso infalível.

Uma dúvida que fica, será que estas práticas tão exercitadas pelo público durante os paredões serão aplicadas durante as eleições? Essa organização em comunidades e grupos, repercussão no twitter será usada para investigar propostas, passado político, etc?