segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O mecanismo do preconceito.

Quando os primeiros homo sapiens começaram a observar que, comendo determinado tipo de coisa, morriam e, comendo determinado tipo de coisa, sobreviviam, eles começaram a obter um tipo de conhecimento peculiar. O conhecimento necessário para a sobrevivência. Também foi importante para a sobrevivência saber identificar ruidos e sinais de diversos tipos de ameaças. Deste modo, ao longo da evolução da nossa espécie, moldamos o nosso cérebro para fazer julgamentos rápidos, nem sempre precisos, visando a sobrevivência.

Todo conhecimento da humanidade tem sua origem nesse mecanismo: a medicina, a cultura, as artes, etc. Ou seja, tudo o que sabemos hoje teve sua origem em pré conceitos. Bom, se vc quiser duvidar dos conceitos da medicina e acha necessário enfiar uma estaca no coração para comprovar que algum sangue vai escorrer, sinta-se a vontade.

Fato é que julgamentos rápidos foram e continuam sendo parte da rotina de sobrevivência da nossa espécie. Supondo que vc esteja atravessando a rua e ouve um barulho de buzina. O que vc faz? Graças a agilidade do nosso inconsciente, que vasculha em seu repertório de imagens, sons e sensações vividas, experimentadas, assistidas ou imaginadas, vc consegue pular para a calçada num impulso sem nem pensar direito. Se ao invés dessa agilidade inconsciente, fossemos depender do nosso cérebro consciente racional, a resposta seria muito mais demorada. Pois ele iria ponderar isso, depois aquilo, depois aquilo outro. Normalmente a resposta consciente racional é mais precisa, no entanto, muito mais demorada. O que numa situação de urgência é fatal.

Logicamente, existem preconceitos nocivos. Aqueles baseados em falsas premissas ou em premissas incompletas, quando julgamos alguém sem conhecer e nos recusamos a fazer uma avaliação mais completa antes de emitir uma opinião.

Mas o mecanismo do pré conceito está em toda a parte e é tão natural no ser humano quanto piscar. A sabedoria está em saber quando os pré conceitos são úteis e verdadeiros e quando não são úteis e/ou falsos.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Ser é ser curtido, comentado e compartilhado.

Você vai lá, faz um post supercriativo e ninguém lê. Pior. Publica uma foto, aguarda alguns minutos. Nenhum like. Nenhum comentário. Que trágico. 

O filósofo irlandês George Berkeley (1685 - 1753) dizia que "ser é ser percebido", ou "ser é perceber e ser percebido", podíamos atualizar esse raciocínio para os dias de hoje e dizer "ser é ser curtido, comentado, compartilhado". Deste modo, não ser curtido, nem comentado, seria a morte. 



Logicamente, quando Berkeley fez essa reflexão (ser é ser percebido) ele não a utilizou nesse sentido que eu expus no parágrafo acima. Sua teoria era de que o mundo material não existia. Tudo o que existe, existe na mente: "Toda a ordem dos céus e todas as coisas que preenchem a terra - em suma, todos aqueles corpos que compõem a enorme estrutura do mundo - não possuem nenhuma subsistência sem uma mente.". Deste modo, se não existisse uma mente para perceber as coisas, nada existiria. Mas podemos rebater Berkaley e pensar o contrário. Se uma mente não existisse, o mundo continuaria existindo, independente de ter uma mente que o perceba ou não. O que não existiria seria a mente.

Mas, enfim... esse post não se propõe a explicar ou debater o pensamento de Berkeley. Utilizei essa frase, nesse contexto, apenas para refletir rapidamente sobre um caso que aconteceu tempos atrás. A saber. Um amigo meu comentou sobre um "contato" de sua lista no facebook que havia postado um vídeo chorando, desabafando e colocando o suicídio nas entrelinhas. Fui ver os comentários, vários "amigos" preocupados apareceram. 

De fato, uma parte das pessoas que tentam se suicidar, não querem morrer, de fato. É aquela famosa "tentativa" mais ou menos. Uma ameaça, um teste, para saber se ela é importante para alguém. Ela quer "ser", mas antes precisa saber se é notada. Se existe de fato para alguém. 

Muitas vezes, quando brigamos com alguma pessoa, passamos a ignorar a existência dela. Dizemos até "fulana morreu para mim". Posso ignorá-la e dizer que ela está morta. Mas ela não está. Continua existindo. Muito embora a pessoa (a fulana), em si, possa se sentir assim mesmo, morta, pois é invisível para o outro que a ignora. Num ato de desespero a ignorada ameaça "não ser" efetivamente, para testar se será percebida, notada. Tudo isso na esperança única de continuar "sendo".  


No meu post anterior, eu disse que não me importava se ele não fosse lido por ninguém. Isso é meia verdade. Fomos treinados para isso. Postar, ser curtido, ser comentado. É quase um vício. Esquecemos que, notados ou não, continuamos existindo. E as vezes, de maneira mais intensa quando menos notados. Mas isso é assunto para outro dia. 








segunda-feira, 25 de abril de 2016

Vamos falar sobre o Amor?

Vamos...

Mas antes, uma observação... O último post deste blog foi publicado em 2010. Decidi há pouco retomar essa atividade. Não existe um motivo, muito menos uma pretensão. A "audiência" provavelmente será medíocre, mas cada um deve buscar uma maneira de se manter mentalmente saudável nesse mundo louco. Nesse sentido, escrever me ajuda. 

E por que decidi "estrear" o blog falando sobre o Amor? Você imagina algum motivo? Não. Eu não estou apaixonado. Também não estou sofrendo por ninguém (graças a Deus). Não passei por nenhuma desilusão. Também não tenho, a bem da verdade, nunca tive, um relacionamento amoroso de fato. Decidi começar falando sobre o Amor, porque achei necessário. É um assunto que dá audiência, claro! No entanto, não é audiência o que estou buscando. Se fosse, esse post teria outro título: "10 PASSOS PARA ENCONTRAR O AMOR"; "10 DICAS PARA CONQUISTAR O AMOR DA SUA VIDA"; "10 MANEIRAS DE RESSUSCITAR O SEU RELACIONAMENTO",... Talvez com algum desses títulos, eu conseguiria alguns compartilhamentos no "face". Mas não é isso o que estou buscando.  Também não faria um post do tipo "10 dicas" porque não acredito nesses manuais do amor. Não existe uma maneira de aprender a amar. Todos esses livros que ensinam isso mentem. 

Na verdade, um dos principais problemas relacionados ao amor é linguistico. No grego, existem três palavras que podem ser utilizadas nesse sentido. Eros, é o amor romântico (o que abordamos nesse post). Philia, é o amor virtuoso, entre amigos e familiares. Agape, é o amor pleno, o amor de Deus pela sua criatura é um exemplo. Se tivéssemos essa variedade em nossa língua talvez sofreríamos menos. Ninguém passaria pelo constrangimento de falar "eu te amo" e escutar um "gosto muito de você" de volta. 

Um outro problema relacionado ao amor é mais sutil. Vivemos a era do consumo. E que bom. É muito bom consumir. O celular cai no chão, quebra a tela,... para quê consertar? Vou aproveitar e comprar um novo, com uma câmera melhor, com mais memória, com mais funções. Para que gastar um dinheiro consertando, se posso simplesmente comprar um novo? Infelizmente, levamos essa lógica do consumo para os nossos relacionamentos. Fulana é legal, bonita, inteligente, mas não tem ambição. Ciclana tem ambição, é legal, inteligente, mas não é bonita. Beltrana é bonita, inteligente, tem ambição, mas não é legal. No meio do relacionamento, a gente descobre algum defeito e o que a gente faz? P-R-Ó-X-I-M-O. Esquecemos que não existe ninguém perfeito. Por mais que se procure, não existe. O amor não vem pronto. O amor é construído e não existe um manual para isso. Mas muitas vezes não se procura o amor (agape), normalmente procura-se apenas sexo mesmo (eros? nem isso). Pega-se o celular, avalia as possibilidades... o que tem pra hoje? Aprendemos a consumir pessoas. E aqui está a grande pegadinha do negócio. Da mesma maneira que você consome alguém,... alguém, em algum momento, vai consumir você. E quando achar conveniente vai te jogar fora, e normalmente sem avisar. 

Outra expressão que ouve-se com bastante frequência: "Estou investindo no meu relacionamento". Que expressão medonha, não é mesmo? O que faz um investidor, se não observar o mercado e, no momento oportuno, vender suas ações para comprar uma outra que lhe ofereça mais lucro? Muitos relacionamentos se baseiam nessa lógica atualmente. "Tem umas coisinhas no fulano que me incomodam, mas eu tolero mesmo assim, pois ele me faz bem". Ou seja, eu não amo o outro, eu amo aquilo que ele me proporciona. Se o beltrano puder me oferecer mais, o fulano que vá para o diabo. 



Tudo isso somado a modernidade dos nossos tempos dificultou a tarefa de encontrar o amor. Dizem que a internet diminuiu as distâncias, criou-se uma infinidade de aplicativos para facilitar os "encontros" e a despeito disso, nunca foi tão difícil encontrar o amor. O cardápio é tão vasto que a escolha se tornou complexa e nossos critérios de avaliação se tornaram muito rígidos. Em um simples jantar, você disputa a companhia do seu par com uma infinidade de contatos que a todo momento disputam a atenção dele pelo celular. Você precisa ser mais bonito e mais interessante que todos eles. 
O feio, coitado, logo é descartado. O bonito quer a maravilhosa, a maravilhosa não quer o bonito, quer o espetacular, e o espetacular acha que nenhuma é suficientemente boa para ele. No fim, terminam todos sozinhos. 


E nos tempos de hoje a maioria das pessoas têm verdadeiro pavor da solidão. Para elas, é impossível passar alguns minutos em sua própria companhia desconectadas. Para muitos, ir ao cinema sozinho, ou passar um final de semana em casa sem ninguém, lendo, ou simplesmente dirigir com o rádio desligado em silêncio é uma coisa impensável. É necessário o barulho, principalmente das notificações. E se você não consegue passar algumas horas sozinho, em sua própria companhia, como espera que o outro consiga? Esse é mais um problema dos relacionamentos de hoje, busca-se o outro apenas para evitar a solidão, para preencher um espaço vazio que a própria pessoa não consegue preencher por si só... "ama o próximo como a ti mesmo" não cabe aqui, simplesmente porque a pessoa não se ama, mas espera que o outro o faça por si. 

Enfim...tempos difíceis, meus caros, tempos difíceis. Enquanto isso, a gente continua assistindo os "amores" que aparecem hoje e desaparecem na semana que vem nas redes sociais da vida.














quarta-feira, 4 de agosto de 2010

MENTIRAS ESSENCIAIS, VERDADES SIMPLES

Mentiras Essenciais, Verdades Simples: O homem tem a consciência da morte. Uma verdade simples, porém insuportável. Para lidar com isto, ele cria mentiras vitais, para que consiga sobreviver. Este é o tema do livro 'Mentiras Essenciais, Verdades Simples'. Não é o meu livro preferido, nada disto. Mas, de repente, me lembrei dele. Vale dizer que não se trata de um livro de auto-ajuda. O autor é o Ph. D. Daniel Goleman, aquele mesmo de "Inteligência Emocional". Na obra, ele explica o funcionamento mecânico da mente e como funciona a psicologia da auto-ilusão.


O fato é: a verdade, muitas vezes, é dura. Enquanto a fantasia é tão mais confortável e atraente. Mas qual é o preço de se iludir, de se enganar? Muitas pessoas mentem para si mesmas, para que consigam suportar os seus dias. E é terrível quando a verdade as alcança, tirando toda a sua base e derrubando toda a sua estrutura. É a des - ilusão.
 
Nietzsche sempre chamou os cristãos de fracos, pois preferem crer na 'ilusão' da vida eterna à encarar a 'realidade' da morte. Eu sou cristão. Eu tenho fé. Sou um homem de fé. E quando me perguntam o que eu sou, a primeira idéia que me vem à cabeça é: sou um homem de fé. Para muitos é uma ilusão, é uma fantasia, uma mentira essencial. Mas pra mim, é uma verdade simples, muito simples.

terça-feira, 13 de julho de 2010

SKINS E O RETRATO DA JUVENTUDE


Sexo, drogas e bla bla bla. Nada de novo, pelo menos no que diz respeito ao tema. Porém, na maneira de abordar? Quanta diferença. Pra começar, vamos esquecer o politicamente correto. Em 'Skins' não há julgamento, nem sermões, existem pessoas. Jovens, mais especificamente, e sua inerente vontade de viver. Provoca? Claro. Deve escandalizar muita gente.  Mas nem por isso se torna vulgar. Na verdade é uma bonita história sobre a juventude e a amizade.

Que tal fugir do óbvio, do clichê e do caminho fácil? Por exemplo, o personagem principal das duas primeiras temporadas tem boas notas, é inteligente, é um bom amigo, atua e canta na peça do colégio (até parece algum personagem de Glee). Que garoto exemplar, você deve estar pensando. Sim, que garoto exemplar. Ele também transa com várias garotas do colégio, empresta a própria namorada pro amigo virgem, quer experimentar o amigo gay e consome droga e álcool de maneira desenfreada. Que menino prodígio. Lá pelas tantas, ele sofre um acidente. Eis que 'o cara' virou motivo de gozação: 'Olha lá, ele ficou retardado!', é o que 'as pessoas normais e corretinhas' exclamam. É neste momento que ele recebe o apoio e o amor incondicional de cada um de seus amigos marginalizados.


O  grande mérito da série, é que ela não recorre ao caminho fácil (ou convencional) e toca na ferida de verdade. Desenvolve o tema com profundidade. Aqui no Brasil, a teledramaturgia (principalmente a da Globo) se gaba do que chama de 'merchan social'. Por exemplo, recentemente em Malhação, foi introduzido um personagem que tinha problemas com drogas. Sua única função era servir de step para a divulgação da campanha anti-crack. Uma assistente social e o melhor amigo do rapaz, gastavam longos minutos com sermões que utilizavam praticamente o mesmo texto didático e 'sem emoção' dos comerciais. Todos os dias, o mesmo sermão, com as mesmas palavras, repetidos a exaustão. Depois de transmitida a mensagem, o personagem desaparece da trama e a novela retorna a normalidade.

Não estou criticando este tipo de campanha dentro da teledramatugia. Muito pelo contrário, inúmeras vezes a Globo já mostrou como o 'Merchan Social' pode ser útil, uma vez que traz a tona e esclarece a população sobre diversos temas que lhe afetam no cotidiano*. Mas precisa existir uma coisa chamada, adequação. Não pode comprometer o drama, precisa ser contextualizado, bem inserido, bem abordado e bem desenvolvido. Não basta colocar o texto da campanha na boca de um personagem, como foi feito em Malhação. Mas, isto acontece simplesmente pra inflar os números e poder anunciar depois que as novelas bateram recorde de inserções destas campanhas. No entanto, muitas vezes a abordagem é tão superficial, tão rasa, tão vazia que chega a ser ridícula e medíocre. Não é o caso da série Skins. Aliás, sua intenção passa longe do merchan social. Sua pretensão é mais documental, uma espécie de reality sobre o estilo de vida do jovem britânico.

*(Um exemplo positivo de 'Merchan Social' foi desenvolvido na novela 'Laços de Familia', quando a personagem Camila descobriu ser portadora de Leucemia, o seu drama tinha o intuito de estimular a campanha de doação de medula. O ápice da campanha foi quando a personagem precisou raspar os cabelos. A novela ultrapassou os 60 pontos no Ibope e aumentou bastante o número de doações na época.)


Além das drogas, temos a questão da sexualidade. Chega a ser irônico, um país como o Brasil ser tão careta quando o assunto é sexo. Segundo a nossa teledramaturgia, aqui os jovens não transam, bissexuais e lésbicas não existem e gays pertencem exclusivamente ao núcleo cômico e caricato da trama. Ah, e eles não se beijam nunca, claro.

Em Skins temos o oposto de tudo isso. A intenção é fazer um retrato da juventude, sem 'lição de moral'. E por isso mesmo, funciona. Não podemos ignorar as referências de Kids e Ken Park, mas Skins sai na frente. Sua intenção não é apenas chocar, se fosse assim, a fonte teria secado faz tempo. A grande surpresa é que sua mensagem emociona e muitas vezes toca fundo.

Além disto, foge do tradicional sempre que pode: O ritmo da narrativa é bem diferente daquele que costumamos ver nos seriados americanos; A trilha sonora é de primeira qualidade e cria todo o clima. Tá, ás vezes, aparece alguma trilha totalmente oposta ao estilo indie/rock/clássico da série, na intenção de tirar um sarro. Mas faz parte do seu charme. Uma das características marcantes da série é a linguagem. Cada episódio se foca na história de um personagem. O problema é que certos personagens são mais cativantes que outros. Deste modo, alguns episódios podem não ser tão interessantes, de acordo com seu grau de interesse no personagem.


Outra característica que chama a atenção, é a maneira como os adultos são retratados na série. Enquanto os protagonistas jovens são desenvolvidos em toda sua complexidade, os adultos mais parecem 'mortos-vivos' que vivem suas vidas sem nenhum sentido. São abordados de maneira boba, suas motivações são  superficiais e seus discursos bem vazios. Esta abordagem é totalmente intencional. O contraste entre juventude e vida adulta fica evidente. Na série, enquanto os jovens vivem a vida a flor-da-pele (e à sua maneira), os adultos ficam apenas no discurso ensaiado, empurrando com a barriga.

Enfim, se você esta sofrendo nesta mid-season, devido a ausência de boas séries, Skins é uma excelente opção. Totalmente recomendável. A série possui 4 temporadas e, no momento, estou na terceira. Encerro o texto aqui, para poder  ver mais um episódio. Até o próximo post!

quarta-feira, 26 de maio de 2010

O FIM DE LOST



Quando eu paro pra pensar em 59 países assistindo, simultâneamente, ao mesmo programa, e tantas outras pessoas no mundo, pela internet, chorando ou quebrando a cabeça tentando entender o series finale de Lost, eu não consigo pensar em outra coisa: 'Estou presenciando uma fase de transição'. A transição para uma nova forma de ver TV.

Assisti ao series finale anteontem e ainda não sei se consigo escrever sobre ele. Ao término do episódio, eu simplesmente congelei. Fiquei mudo, estático, olhando pro nada. Dentro de mim, porém, uma movimentação intensa. Pensei: 'Espera ai, o que aconteceu? (WTF)'. Precisei voltar os 18 minutos finais. A ficha caiu. Voltei então algumas cenas pra trás e exclamei um palavrão que vou substituir pela palavra 'GENIAL'.

Já disse em outros posts, que Lost sempre foi centrado no conflito entre Fé e Razão. Pois bem, o encerramento da história se deu pela Fé. Teve gente que não gostou, mas neste grupo temos dois tipos de pessoas: O primeiro grupo entendeu, mas não aceitou. O segundo, simplesmente não entendeu.

Vamos lá, se você não entendeu: Os 'FlashSideways', ou a realidade paralela, que embalou esta temporada, era uma espécie de purgatório. Nos FlashSideways, eles estão mortos. E pra que serviu tudo aquilo? É como se a vida precisasse te contar a mesma história (a história de sua vida) de outra forma, para que você compreendesse o porque e a razão das coisas terem acontecido daquela maneira. Nesta realidade paralela, sua vida alcança um sentido e você alcança a sua redenção. Benjamin acredita que ainda não esta pronto e por isso decide que ainda deve permanecer nela. Os demais, caminham rumo a Luz. Seria aquilo o Céu? O Paraíso? Provavelmente. E olha que curioso, o céu não é um campo de golfe, nem um espaço verde infinito com crianças jogando bola de um lado pro outro. Na verdade, é um estado de espírito de total compreensão e felicidade completa, perto daquilo e daqueles que foram importantes durante a sua vida. 'Por isto estão todos aqui, você precisa de todos eles e eles precisam de você' é o que Jack ouve de seu pai morto. Por isso, Charlie reencontra Claire e Aaron, por isso Sayid encontra Shannon, por isso Locke, enfim, se levanta da cadeira de rodas. Tudo o que lhes fora importante em vida lhes é concedido, uma vez redimidos. Todas as situações dos flash-sideways, compõem um epílogo da saga que acompanhamos na ilha (vale ressaltar, tudo na ilha aconteceu de verdade, eles estavam vivos).

Ta. Mas, e a Dharma? E o coração da Ilha? E a fumaça preta? De fato, a mitologia de Lost não é diferente de todas as outras mitologias. É um campo aberto para diversas reflexões, seja ela científica, filosófica ou religiosa. Há uma Luz ou uma Força. Para alguns ela pode significar Fé, Amor, Esperança. Para outros pode significar 'buracos de minhoca', 'efeito casimir', 'máquina de fazer dinheiro'. O fato é, existe uma luz que é a origem metafísica do mundo. Os homens de fé a protegem e os da razão querem explorá-la. A Iniciativa Dharma buscou entender o poder da ilha. Estudando a origem metafísica do mundo, presente no núcleo da Ilha, teríamos a ciência total do Universo e do Homem. Uma das descobertas foi a possibilidade de viajar no tempo. E este recurso foi utilizado na narrativa para que pudessemos conhecer mais sobre a história da Ilha, da Dharma e dos personagens. Foi assim que descobrimos que a Dharma dividia o território na Ilha com os 'Outros', ou os homens de fé, liderados por Jacob, o protetor espiritual da Ilha. Numa dessas viagens no tempo, descobrimos que Ben (que pertencia a Dharma) extinguiu toda a comunidade científica para se juntar aos 'Outros'. Depois disso, desabilitou as estações  para que a Ilha não fosse localizada e explorada novamente. Porém, um dia, Desmond deixou de teclar os 'números', o que permitiu que a Ilha fosse localizada por Wildmore, que foi buscar o acerto de contas com Ben.

Falando em números, o que seriam eles? No jogo de Lost e fazendo uma pesquisa pela internet, descobrimos que os números fazem parte de uma equação, que pretende calcular uma constante, responsável por manter o mundo livre do Caos. Talvez por isso sejam utilizados pela Dharma nas escotilhas e nas estações. E também utilizado por Jacob para numerar seus candidatos.

E afinal, por que eles foram parar na Ilha? Jacob escolheu a cada um deles, por razões diversas, para que um deles fosse seu substituto, como protetor da Ilha. Esperava dar a cada um deles, uma nova chance, uma segunda oportunidade na Ilha. Desde o princípio, Lost foi uma série sobre pessoas: uma ladra-assassina, um médico-viciado, um músico-drogado, um pilantra, um deficiente físico, enfim, pessoas. Pessoas que traziam dentro de si o bem e o mau, com uma existência vazia e errante, e que encontraram na Ilha uma oportunidade de começar do zero. Apagar seu passado e assumir uma nova persona pra si e para os outros. Através de Flash-Backs íamos conhecendo os seus passados e como eles estavam intimimanente interligados. Podíamos prever, desde o princípio, que deveria haver uma razão pra tudo aquilo. E esta razão, era Jacob.

E Jacob? Quem ele é? Deus? Bem, ele morreu, então não é Deus. Seria um intermediário, um profeta, um guardião, um semi-deus? Descobrimos que Jacob e o Homem de Preto são irmãos. E foi dali que nasceu o conflito entre Fé e Razão. E, involuntariamente, Jacob liberta o mal (ou a fumaça preta). Torna-se sua tarefa, portanto, evitar que o mal (seu 'irmão') apague a Luz. Essa mitologia explica muita coisa, mas muita coisa mesmo a respeito da série.

Porém, o episódio final frustra muita gente, quando justamente deixa essa mitologia toda em aberto. Não temos detalhes como: 'De onde veio a mãe de criação dos dos irmãos, a primeira nativa da ilha?', 'O que é aquela luz?'. Enfim, muita gente sentiu falta da ciência explicando as coisas e alguns elementos incomodaram até mesmo os 'homens de fé, como eu, por exemplo: eu esperava uma estrutura mais primária para abrigar a luz, uma rolha de pedra e toda aquela estrutura me pareceu muito estranho. Mas, veja bem, é um campo em aberto. Podemos tentar explicar a mitologia de Lost, com conceitos de física-quântica, filosofia ou religião. Os criadores optaram por deixar a mitologia em aberto, justamente para que cada telespectador prencha, a sua própria maneira,  os buracos que ficaram. Afinal, de onde vem Deus? Ele existe? É aceitável pela fé? Ou podemos entendê-lo racionalmente? Não sabemos. É uma resposta que cada um deve buscar por si, é pessoal. Lost não poderia nos dar essa resposta. Não seria Lost. Conhecedores desta verdade, não estaríamos mais 'perdidos'. Lost respondeu o suficiente para que ainda viva em nosso imaginário.

Agora que conhecemos a história (ou boa parte dela), podemos assistir tudo novamente, com um novo olhar. Certamente, entenderemos de uma maneira melhor e mais completa. E como não dizer 'Obrigado' ? Todos os dias, somos tratados como idiotas pela televisão, que subestima a capacidade de seu telespectador. Lost nos presenteia com uma narrativa complexa, que nos obriga a pensar, ler, estudar, discutir e calar. E no fim de tudo isso, conseguiu nos emocionar. Acredito que até mesmo os homens da razão, sentiram um arrepio ou um marejar no olho quando todos os personagens se recordaram, entenderam a sua existência e se encontraram no fim.

Se eu faria diferente? Algumas coisas. Sim! Mas não mudaria uma vírgula na luta entre FLocke e Jack. Não precisou de efeitos especiais elaborados, espadas brilhantes, nem de bombas. Toda a tensão criada ao longo da série estava presente ali. Vamos as críticas. Não me crucifique, mas preciso fazer alguns comentários engraçados. Mais alguém ai se lembrou dos 'aerolitos' do Chapolin quando as pedras caiam durante os tremores de terra? Alguém ficou com medo de entrar um 'Sei lá, sei lá, a vida é uma grande ilusão....eu só sei que ela esta com a razão', naquela cena final na Igreja?

Enfim, tem muita coisa pra se falar de Lost, mas pra finalizar, a série foi um grande jogo. Um gigantesco quebra-cabeça. As ultimas peças necessárias para montá-lo nos foram dadas. Agora precisamos organizar cada peça e encaixá-las. O mais bacana é que não existe uma única maneira de montá-lo, existem várias. Algumas coisas nos são impostas, outras estão abertas para interpretações pessoais. Uma coisa continua sendo única, independente se você é um homem de fé ou da razão: A história de cada personagem. Uma história que também é nossa. Uma mensagem e uma reflexão. Queria poder comentar algumas cenas, no entanto, acho que já me alonguei demais. Quando a emissora solicitou aos roteiristas que criassem Lost, eles buscavam uma mistura de 'Survivor' com 'Naufrago'. O que ganhamos vai muito além de tudo isso. Alguns momentos deste series finale continuam na minha memória, como o renascimento de Aaron e o reencontro de Charlie e Claire, bem como a cena de despedida entre Hurley e Jack, antes do médico descer a caverna. E os flash-backs, quando os personagens entendiam o significado de suas vidas? E o que dizer da cena final? Lost, a principio, se chamaria 'The Circle' (O círculo). Embora a série termine no mesmo local em que começou, o contexto é totalmente outro. Ao abrir os olhos em meio ao bambuzal, no primeiro episódio, Jack encontrava ali a sua segunda chance. Ao cair  morto, no mesmo local, no episódio final, ele tinha plena certeza de tarefa cumprida. Em algumas palavras: Lindo, Genial, Épico! Uma bela jornada.

I ll se you in another life, brother!!!

sábado, 1 de maio de 2010

Novela argentina mostra beijo gay entre jogadores de Futebol

Dois jogadores de futebol: um deles possui histórico cheio de encrencas, temperamento explosivo e é suspeito pela morte da namorada, o outro é casado e pai de dois filhos. Eis que eles acabam se aproximando. Vem o beijo e depois o sexo. Polêmico? Quase Nada...Com essa trama, a novela 'Botineras' da emissora Telefe, na Argentina, tem dado o que falar.

Os atores são famosos e heterossexuais, a audiência disparou e o público, aparentemente, aprovou. Ao contrário do que poderíamos imaginar, a audiência cresceu e a história de Lalo e Manuel foi bem aceita. Deste modo, as cenas dos dois são cada vez mais frequentes. Diferentemente dos casais homossexuais das novelas brasileiras, em 'Botineras' são exibidas cenas dos dois se relacionando, até com bastante detalhes. Talvez seja essa a grande novidade que a novela trouxe. Nos seriados estrangeiros, o beijo e o sexo gay sempre foram tratados com maior naturalidade, já no Brasil o assunto é complicado. Em sua novela, 'América', Glória Perez tentou fazer com que o personagem de Bruno Gagliaso desse um beijo homossexual,  mas foi barrada pela Globo. O autor Aguinaldo Silva diante de toda a polêmica em torno de 'Botineras', já levanta a hipótese de fazer o mesmo.

Na foto ao lado, os dois atores que interpretam os jogadores de futebol.

O fato do público argentino não rejeitar o casal gay de 'Botineras' pode refletir duas coisas: ou a novela trata o tema de maneira delicada e respeitosa, dentro de um contexto bem trabalhado, ou o público venceu o preconceito por lá.